Aribu, por Elsie Houston

publicado originalmente em goma-laca.com

No Chants Populaires du Brésil, “Aribu” é apresentada por Elsie Houston curiosamente como “canção cômica”, “lundu” e “tyrana do sul”.

Explorando as possibilidades rítmicas do urubu malandro do mundo lírico, Elsie gravou esse tema em disco em 1930 como um “coco do norte”. Nele, canta, breca e recita acompanhada de piano, violão e cavaquinho com Gaó, Benedito Chaves e José  do Patrocínio (Columbia 7.054). Na época da gravação, o “Aribu” já era velho conhecido no mundo cênico, e Elsie conta ter aprendido com a célebre Alda Garrido, com quem atuou em 1926 na revista “Mexericos”, da Companhia Tangará de Bailados, Canções e Cenas Brasileiras.

 

 

 

Elsie Houston
Aribu, 1930
Elsie HoustonAribu, 1930

 

Aribu, Elsie Houston, 1930 (Columbia 7.054)

 

 

por Rachel de Queiroz

“Aribu” também faz parte das memórias de infância da escritora cearense Rachel de Queiroz, que escutou de “um palhaço da sua terra” e, décadas depois, registrou lindamente os versos em 1940 cantando para o linguista Lorenzo Dow Turner. O pesquisador norte-americano estava de viagem à Bahia para estudar sobrevivências das línguas africanas no Brasil e, de passagem pelo Rio de Janeiro, gravou em um jantar, as vozes de Rachel, Mário de Andrade, Mário Pedrosa e Mary Pedrosa (irmã de Elsie Houston), todos cantando e conversando sobre música brasileira e suas pronúncias. Esta gravação histórica foi descoberta em 2015 pelo musicólogo Xavier Vatin na universidade de Indiana (Bloomington), nos Estados Unidos.

 

 

 

 

Rachel de Queiroz
Aribu, 1940
Rachel de QueirozAribu, 1940

 

Aribu, Rachel de Queiroz, 1940

 

 

por Alessandra Leão

 

No disco Goma-Laca: Cantos Populares do Brasil de Elsie Houston (2019), “Aribu” renasce no toque quente e pra frente de zabumba e viola. Alessandra Leão devora versões e esbanja ritmo.

 

 

Alessandra Leão Voz e Triângulo | Rodrigo Caçapa Zabumba e Viola Dinâmica | Filipe Massumi Violoncelo | Junior Kaboclo Flauta

 

Aribu quando nasceu Branquinho como papel

Foi abrir as suas asas

Nas matas de São José

Ê pati pati, ê pati patão

Ê Paracaí, eu caí no chão

Eu não sou daqui, sou lá do fundão

Ah minha nega, minha pombinha de arroz

Cadê os ovos que a galinha pôs

Eles eram três, eu só vejo dois

Eu vim de casa só pensando em tu

Avuando pelos ares que nem Aribu

Aribu, aribu, aribu, aribu

 

Quem sabe cantar não canta

E quem não sabe quer cantar

A minha mãe mandou me chamar

Pra cantar com Isaías

A minha vó veio e me disse

Que mamãe não consentia

Ê pati pati, ê pati patão

Ê Paracaí, eu caí no chão

Eu não sou daqui, sou lá do fundão

Sou de boa boca, como o que me dão

Comi piraíba, arrotei cação

Ah minha nega,

minha pombinha de arroz

Cadê os ovos que a galinha pôs

Eles eram três, eu só vejo dois

Eu vim de casa só pensando em tu

Avuando pelos ares que nem Aribu

Aribu, aribu, aribu, aribu