Em 2010, enquanto fazia um curso de Radio Features (documentários radiofônicos) na BBC Accademy, em Londres, fui passear pela cidade durante algumas semanas com o equipamento de gravação possante da Rádio. Lentes de aumento para meus ouvidos.
Cidade sonora, colorida, calada e cinza. Cidade sotaque. Ouvindo a música que havia em cada um que passava, me transportava para muitas partes do mundo. Estava na África, na China, Rússia, Tailândia. Ninguém para dizer Hello. Pensando no Caetano Veloso e seu casaco de pele, estava no Brasil. Por onde andam os ingleses, when my eyes go looking for flying saucers in the sky?
Comecei ouvindo, e gravando, as rodinhas das malas na estação, o som disciplina da Troca da Guarda, da loja de relógios e do Big Ben. E o grafite, subversivo, como as crianças que brincavam com a água comportada do Green Park. Depois, aumentei a profundidade da lente, e descobri que eram muitos os lonely in London, como eu, e a canção de exílio do baiano estava na língua da mãe croata, da garçonete chinesa, o homem do tempo africano, e em mim. Em mim.